"Los Ríos Territorio Arquitectura" é um programa que busca valorizar a arquitetura da XIV região do Chile, Los Rios, ao mesmo tempo em que torna visível o trabalho dos arquitetos desse território através de três episódios que reúnem entrevistas com 15 profissionais e 22 locações diferentes.
A iniciativa é do Departamento de Fomento do Ministério da Cultura, Arte e do Patrimônio da Região de Los Rios em aliança com a Comunidade Criativa Regional, e tem financiamento da Área de Arquitetura do Ministério Cultura, Arte e do Patrimônio, que acreditou nesta proposta feita a partir do território regional.
A coordenadora técnica do programa é Carolina Ihle, Arquiteta e Mestre em Science in Advanced Architecture Design pela Universidade de Columbia, com especialização em Pesquisa Avançada de Arquitetura. Atualmente ela é acadêmica do Instituto de Arquitetura e Urbanismo e Pró-reitora da Faculdade de Arquitetura e Artes da Universidade Austral do Chile.
Na entrevista a seguir, ela nos conta como a iniciativa foi concebida e quais são as expectativas com ela.
Você pode nos dizer em suas próprias palavras o que é "Los Ríos Territorio Arquitectura"? Em que fase o programa está atualmente?
É um programa que busca gerar um espaço de valorização e visibilidade do trabalho dos arquitetos da região, caracterizado pelas particularidades do território com suas paisagens, seus materiais, além de seu patrimônio histórico e natural.
Estamos em uma fase de reconhecimento, identificação, agrupamento e associação. Há também uma intenção de gerar instâncias de leitura crítica de nossa profissão, de promoção e discussão, além do objetivo de fomentar a associatividade. Na troca de experiências locais, promovemos um exercício para valorizar uma primeira etapa que, como se fosse um viveiro, esperamos que leve à incorporação de muitos outros profissionais da região.
Nesta etapa do projeto, ao longo do processo, pudemos reconhecer o imenso valor de discutir a disciplina, conhecer-nos, associar-nos e escutar-nos. A partir do trabalho de elaboração destas cápsulas, conseguimos gerar isto.
Como foi a experiência de conhecer e reconhecer o trabalho dos e das colegas?
A experiência foi surpreendente e gratificante. É sempre surpreendente quando o trabalho e a seriedade com que diferentes profissionais responderam aos desafios da região se torna evidente, e como há processos de pesquisa que inevitavelmente entram em sincronia entre pares. Em parte devido à necessidade de responder aos desafios contemporâneos afins, em parte devido à natureza específica do território.
No processo de visitas às obras, entrevistas e conversas de campo, acabamos circulando por uma constelação de obsessões que constituem um rico conjunto de experiências e trabalhos.
Surgem questões sobre a materialidade, a persistência da madeira, do metal, dos ofícios há muito estabelecidos na região. Perguntas sobre como lidar com o patrimônio, com a ideia de identidade, com a memória histórica da arquitetura e suas múltiplas camadas. Perguntas sobre as paisagens que nos precedem, que construímos, as paisagens em que nos situamos como arquitetos.
Em resumo, esta experiência foi uma constante tentativa de entender e responder às grandes questões que nos fazemos hoje sobre arquitetura: Como a representamos? Qual é a tectônica da arquitetura em Los Rios? Qual é a dimensão política da arquitetura da cidade e da ruralidade da região? Como construímos a experiência sensorial da arquitetura? Qual é o interesse coletivo em que nos situamos? Como fazemos a arquitetura contemporânea nas periferias do mundo?
E qual seria a narrativa da Região de Los Rios?
Inicialmente, junto com alguns colegas, identificamos, em vez de narrativas, três questões que enfrentamos de forma transversal e que inevitavelmente constroem uma visão do fazer profissional na região. Estas foram paisagem, patrimônio e a construção em madeira e metal.
A paisagem tem a ver com as percepções sensíveis e subjetivas dos espaços, a relação com a natureza, as pré-existências, as particularidades de um lugar que são abordadas pela arquitetura, que são capturadas, enquadradas ou transformadas pela arquitetura. Houve quem dissesse que a arquitetura é colocada na paisagem e quem dissesse que ela constrói a paisagem. Há nisso uma conversa interessante que tentaremos seguir explorando, especialmente porque os profissionais locais conhecem e compreendem estas paisagens por meio de suas experiências.
O patrimônio é um tema profundamente relevante em Valdivia, devido a sua longa história de assentamentos, registros arqueológicos e arquitetônicos, tanto pré-hispânicos, de colonização precoce e tardia, quanto de arquitetura moderna. O que é patrimônio? Quem decide o que é? Como intervém? Quem representa? É material ou imaterial? Estas são algumas das perguntas que tivemos que responder neste laboratório disciplinar natural, e é por isso que acreditamos que é uma conversa que queremos abordar.
Finalmente, a construção em madeira e metal se refere ao conhecimento dos ofícios específicos de nosso território cheio de florestas e barcos. Aqui no território encontramos, por exemplo, a linhagem dos carpinteiros do sul, que são uma mistura de carpinteiros alemães e de Chiloé. Eles abordam os detalhes de construção e a madeira não apenas pelo lado técnico, mas também pelo que significa intelectualmente pensar sobre o mundo a partir das peças e vínculos desse material. Este é um dos grupos de arquitetos que queremos colocar na conversa.
Ou seja, há muito debate pela frente. Quais são as projeções do programa a partir de agora?
Sim, este é o começo de uma espécie de "arquivo de espírito infeccioso", cuja intenção é infectar positivamente o resto de nossa ecologia profissional, para que os colegas discutam, a partir do pretexto de três cápsulas audiovisuais (que esperamos que no futuro sejam muitas mais) e assim enriquecer e tornar visível a nível local, nacional e internacional o debate em torno da arquitetura regional de Los Rios.
Para o futuro, propõe-se que a médio e longo prazo este programa siga uma linha de registro, documentação e arquivamento de obras e desta comunidade de arquitetura, além de promover a associatividade entre pares, internacionalizando a produção dos colegas, tornando visíveis as questões materiais, sociais, políticas e ambientais que a arquitetura levanta e colocando em discussão estes princípios inquestionáveis em nossa disciplina a partir do sul.